Novela? Futebol? Silvio Santos? Jornal Nacional? Globo Rural? Raul Gil? Sessão da Tarde? Isso não te pertence mais. Esqueça tudo! A partir do momento que você passar a ser um Residente Permanente no Canadá seu programa favorito vai ser o Canal do Tempo.

Vai ser uma obsessão. Você vai checar o canal do tempo antes de dormir, e quando acordar, vai ligar a tv para checar outra vez. Durante os intervalos do jornal, vc vai dar uma olhadinha no tempo. Quando a programação estiver chata, é pra lá que você vai. Quando estiver trabalhando, arrumando a casa, fazendo a colheita na fazendinha ou simplesmente navegando na internet, é o canal do tempo que vai fazer o barulho de fundo.

Mas não para por aí. A doença só cresce. No seu computador, o canal do tempo vai estar no "seus favoritos" e vai ser sua homepage. Um plug-in vai ficar instalado bem ali do lado do reloginho. Vai ter aplicativo no seu celular, e antes mesmo de se levantar da cama, vai ligar ele pra saber "quanto está fazendo lá fora". Ele vai ser o seu guia. Você vai segui-lo no Twitter e curtir a página no Facebook. Ele vai ser o assunto das suas conversas: Você viu o Canal do tempo hoje? Vai nevar 50 centimetros!!! 

Não tem comparação com a meteorologia do Brasil. No Brasil, o tempo não tem grandes mudanças ao longo do dia, e não é uma questão de sobrevivência (salvo nos casos de tempestade que alagam a cidade). As condições climáticas são mais constante. Aqui, você pode sair de manhã para trabalhar de tênis e ter um problemão na hora de voltar pois pode haver meio metro de neve na calçada. A previsão do tempo no Brasil as vezes não consegue prever se vai chover ou não. Me lembro que quando o Edmilson Ávila falava de manhã no Radar RJ que ia chover e não chovia, no outro dia assim que ele chegava eu brigava com ele. O Edmilson é (não sei se ainda é) o moço do tempo e do trânsito do RJ TV. Eu não conhecia ele exatamente, sabe... falava com ele pela tv mesmo. E que cara é essa? Vai me dizer que você nunca respondeu "Boa Noite" pro Cid Moreira? Francamente... rsrsrsrs

Eu diria que aqui a previsão é bem precisa. Tá, não é 100%, mesmo porque eles fazem a previsão de todas as horas do dia. De quando a chuva vai começar, de quando vai parar, da quantidade de neve, de vento, de humidade... é bem verdade que nisso eles não acertam muito não. Costumam errar algumas horas (ou alguns centimetros, no caso da neve, sempre para menos, claro). Mas se eles falam que vai chover, chove. Se eles falam que à tarde vai fazer sol, vai-fazer-sol. Por varias vezes, depois de uma manhã de nuvens carregadas, chuva e frio, a meteorologia diz que às 2 horas da tarde vai fazer sol, eu sempre duvido. Mas ela acerta. Mesmo que seja às 3 ou 4 da tarde, mas o céu abre. O canal do tempo testa a sua fé!

Você acha que é exagero, mas não é não. O Canal do tempo move a cidade, as pessoas e a vida! O canal do tempo dita a moda! É ele que vai dizer se hoje você vai ficar de mau humor, se vai vestir galocha, ou se vai sair de bonequinho da Michelin. É ele que vai dizer se você vai vestir aquela roupinha colorida e fresquinha do Brasil e sonhar com um chopp geladinho no final do expediente, ou seja, o canal do tempo é o seu Oráculo.

E não é só o seu oráculo, é de todo mundo, da cidade toda. Hoje, 22 de dezembro no hemisfério Norte é o solstício de inverno, o dia mais curto do ano (graças a Deus, a partir de amanhã começa a melhorar. Um saco esse negócio de escurecer às 4 da tarde, depressivo.) Isso quer dizer que o sol atingiu a maior distância angular em relação ao plano que passa pela linha do Equador, o que significa também que é oficialmente o início do inverno, o que significa também que sua consulta ao Oráculo Canal do Tempo será mais assídua nos próximos 4 meses.

Quer ver como a cidade toda está em função do tempo? Ontem, havia previsão para chuva congelante (Freezing Rain, em inglês ou Pluie Verglaçante, em francês) que nada mais é que um nevinha que vem lá do altão, passa por uma camada de ar quente que transforma a nevinha em água e então chega a superfície que está abaixo de zero e congela. Isso quer dizer que tudo que a gotinha de água tocar a transformará em gelo, inclusive a calçada onde a gente caminha e a rua onde a gente dirige, ou seria melhor dizer, onde patina? Bom, imagina caminhar sobre o gelo, escorregadio, não? São nesses dias tenebrosos que acontecem os acidentes. Carros e pessoas deslizando caminho a fora.

Para evitar prejuízos maiores, a prefeitura consulta o Oráculo, se antecipa (já que a previsão é de chuva congelante para às 11 horas) e começa a salgar a cidade. Por exemplo, ontem às 8 horas da manhã eu acordei e encontrei a rua desse jeito:



Sim, o branco na rua é sal, um caminho de sal. Repara que também tem na calçada, porém na calçada é uma mistura de sal com pedrinhas. Tudo para tentar prevenir acidentes, já que quem paga a conta do hospital, é o governo. Mas mesmo com o sal, as pedrinhas e a bota com travas de metal super aderentes, é preciso caminhar patinando pra evitar aquela video cassetada. 

Como eu disse, o canal do tempo costuma errar em algumas horas. A previsão de chuva congelante era para às 11 da manhã, mas ela só começou mesmo no final do dia. Eu nunca tinha visto esse negócio de chuva congelante, gente da roça fica curioso demais da conta com essas coisas, sabe? Daí eu ficava toda hora indo na janela ver a evolução da coisa. Infelizmente não deu pra registrar por foto, a superfície da calçada parece molhada, quando na verdade é gelo, e não dá pra ver isso por foto. Consegui fazer um video que mostra duas pessoas tentando atravessar a rua sem cair. Pena que estava noite e não ficou muito bom, mas dá pra ter uma idéia do perigo.




Tudo que você vê e que parece estar molhado, é gelo. Dá até pra reparar uma das pessoas procurando um lugar melhor na calçada para caminhar, provavelmente a parte com pedrinhas. Pode reparar também que até os motoristas reduzem a velocidade (muito prudente).

Essa imagem é do dia seguinte a chuva congelante:


Veja a quantidade de pedrinhas que jogam. A parte branca é o gelo que embranqueceu por causa da mudança da temperatura. 

E assim começa o Inverno 2012, atípico, sem neve acumulada nas ruas, céu azul e temperatura em torno de 1ºC. Nada normal para a época. Meu professor que tem a idade da Madonna (ele tem dificuldade em dizer 53... rsrsrs) disse que em todos esses anos dessa industria vital (a vida dele), essa é a terceria vez que isso acontece. As estações de ski no Quebec estão fechadas por falta de neve ou funcionado com neve artificial em pleno Dezembro (parece piada, né?). No oráculo passa toda hora a  previsão da possibilidade de neve para o dia 24, e a possibilidade de um Natal Branco está bem baixa (eles estão tristes com isso, parece outra piada, né?), e eu estou achando que o Hotel de Gelo que teria pela primeira vez aqui em Montreal em janeiro, está comprometido. E bem acho que minha patinação no gelo, meu tobogã na neve, meu boneco de neve e minha batalha de bolas de neve, também estão em risco. Enfim... hoje é o Solstício de Inverno no hemisfério norte, o primeiro dia da estação da neve. Neve mesmo, não tem, mas vamos ver como serão os meses de Janeiro e Fevereiro, considerados os mais rigorosos. E que venha o inverno!


Update: O canal do tempo está transmitindo um video feito ontem logo depois da chuva congelante. Se estiver curioso pra ver o garoto deslizando pelo asfalto e conhecer também o Oráculo, clique aqui!


O tempo no Canadá é assunto "pá mais de hora", principalmente numa visão tropicana. Em maio eu fiz uma Breve explicação sobre a temperatura, fazendo uma comparação entre Montreal e o Rio de Janeiro, lembra?

Ultimamente por aqui, a cor predominante tem sido o amarelo, muitas árvores já estão peladinhas, coitadas, o que me faz crer que a cor predominante durará por pouquíssimo tempo.

O verão foi muito bom, mas calor mesmo eu senti por um mês, ou como diz o fanfarrão do meu professor de inglês, o verão começou às 13:15 do dia 15 de julho e terminou às 16:42 do dia 16... de julho. Exageros à parte, o verão realmente foi rápido e rasteiro. Vive-se longos e intensos dias, com muitos eventos acontecendo, festivais pipocando em todas as partes, parque de diversões e piscinas abertas e ainda a possibilidade de caminhar na rua, entrar num estabelecimento e não realizar o ritual do tira-e-bota das roupas. São muitas atividades que quando a programação de verão acaba você fica até perdido sem saber o que fazer, sentindo um certo vazio.

Mas quando você é um forasteiro em uma terra onde o Bom Velhinho habita nos outros 364 dias do ano, como saber identificar a chegada do inverno? Quando saber que os sonhos de uma noite de verão chegaram ao fim?

A gente que nasce nos arredores Equatoriais ou que conhece bem o que é um Rio 40° de Janeiro, fica bem confuso na hora de entender o que é frio pra uma jaquetinha e o que é frio para um casaco. Até pouco tempo, 19° era motivo para sair agasalhado, 16° para usar meia de lã e 12º, feriado municipal.

Mas afinal, agora que se é gringo, como saber qual é o momento certo para usar a jaquetinha básica? Quando acrescentar um suéter de lã? E quando usar tudo isso junto e mais um casaco de 10kg feito com penas de ganso e tecnologia da NASA?

Parece uma pergunta fácil, mas não é. Por isso, para ajudar os futuros imigrantes e os futuros turistas que pretendem conhecer o Canadá durante os meses de Outubro e Novembro (quando há verdadeiramente a transformação da paisagem) eu preparei uma lista, ou melhor, um Guia Ilustrado com as dicas que vão ajudar a identificar a mudança da estação, a aproximação do momento de tirar a roupa de inverno do armário e guardar a de verão.

Fique atento quando...









E aí, gostaram? Espero que eu tenha ajudado (e divertido) um pouco mais vocês. E que venha o inverno!!!


Ainda me lembro do nosso reencontro.
No começo nos estranhamos um pouco,
tímidos, desacostumado talvez...

Mas enfim, esse dia chegou.
Tão grande foi a alegria do reencontro,
que logo já estávamos íntimos outra vez.

Até o sol resolveu nos acompanhar nos trazendo longos dias
E como num sonho de verão,
aproveitamos cada segundo do dia e da noite.

Saimos para tomar sorvete no parque.
As margens do rio, caminhamos despreocupados com o tempo.
E nos dias de chuva, dançamos desavergonhados pelas ruas.

Como crianças, nos divertimos pelas fontes da cidade.
E a sombra de uma árvore frondosa, desfrutamos da brisa leve ao cair da tarde.

A noite, fogos de artifício iluminavam o nosso céu,
onde também pudemos admirar o pôr-do-sol banhar o céu de laranja infinito.

Foi tão intenso.
Fui tão feliz...

Mas os dias passaram como um raio
Como um flash de um fotografo insano.
E é chegada a hora de se despedir.

Quando eu estiver desanimada, triste e solitária,
Quando o frio me impedir de sentir o calor do sol,
E tudo ficar mais branco.
Me lembrarei dos nossos lindos dias.

Vou sentir saudades de você.
Estarei aqui te esperando.
Até ano que vem,
Querido Shortinho...



Não ri não, é sério!
=P
Minha cunhada outro dia me perguntou curiosa sobre como era a cidade subterrânea de Montreal. Realmente, desde o Brasil, eu ouvia falar muito sobre ela, mas como sou uma daquelas raras mulheres que não gostam de shopping, nunca havia pensando como isso poderia ser interessante.

Tá, vai... não sou tão perfeita assim, eu gosto de ver as lojas, mas eu prefiro o comércio de rua, andar ao ar livre... essas coisas sabe?

Mas comércio de rua aqui é um evento, chega uma época do ano, que caminhar pelas calçadas distraidamente olhando as novidades das vitrines é algo arriscado. Além do tombo eminente, digno de video cassetada no Domingão do Faustão, um dedo da mão ou uma orelha podem cair no meio dos 5 metros de neve e nunca mais serem encontrados... convenhamos, nessa situação, nada como um lugar quentinho e seguro para conhecer as tendências Primavera/Verão e acreditar que um dia você vai voltar a usar Havainas.

A cidade subterrânea, também conhecida como Ville Intérieure (en Français) ou Underground City (in English) é realmente uma cidade para pedestres, mas não é só shopping. A cidade subterrânea tem escritórios e túneis que se conectam ao metrô, a prédios do governo, a grandes empresas, escolas, universidades, hotéis, a biblioteca e até a condominios residenciais.

No que diz respeito ao comércio, é um shopping como qualquer um outro, com praça de alimentação e cinema. Bom, o cinema fica na rua, mas com acesso pelo subterrâneo, então eu acho que podemos considerar que ele faça parte, né?

A foto ao lado foi tirada no nível Metrô, abaixo é o nível Túnel (onde tem a praça de alimentação e algumas lojas também), acima é o nível Rua, acima do nível Rua é o nível Galeria, e pode ter mais andares, que podem ser salas comerciais ou mais lojas.

Existem vários desses shoppings ao longo da cidade subterrânea, cada um desses complexos recebem um nome. Neles, além das lojas, cafeterias e praças de alimentação é possível encontrar também academia e supermercados, o que é muito conveniênte durante o inverno.

Nessa foto a sinalização indica o nível onde você está. A sinalização é boa, porém é muito fácil se perder, se perder da direção ou se perder nas milhares de lojas... rsrs

Quando eu cheguei ainda era inverno e passava a maior parte dos meus dias caminhando pelo subterrâneo, quando o tempo melhorou e eu pude explorar melhor as ruas, foi muito legal descobrir em que parte da cidade subterrânea eu estava acima da terra, praticamente descobri Montreal duas vezes.

Depois de conhecer quase tudo, arriba y abajo, me dei conta de que tinha andado pra dedéu debaixo da terra, praticamente uma minhoca... rsrsrs

Dê uma olhadinha aqui no mapa da cidade subterrânea e veja como é grande mesmo.

E aqui um vídeo que foi feito em um dos mais movimentados complexos, o Centre Eaton, que fica na Saint Catherine Street, no centro de Montreal:



Uma dica: em todas as estações do metrô e nos quiosques de informações da cidade subterrânea, é possível encontrar o mapa impresso da cidade subterrânea e o mapa do sistema urbano de transporte. Quando chegamos, foi ótimo pois nos ajudou a nos localizar e saber o ponto e o trajeto do ônibus. Na estação do metrô é só pedir um mapa na bilheteria, no site da STM tem o arquivo em pdf e dá pra colocar no smartphone, o link é esse aqui. Depois que você tiver um plano de dados, aí fica mais fácil ainda se localizar na cidade, que não é tão grande e é bem organizada, mas isso eu explico melhor num próximo post.
SAL é o Serviço de Atendimento ao Leitor, que peço licença a Flávia do Crônicas do Iglu para copiar (vi isso lá no blog dela). Recebi uma pergunta nos comentários e não sabia muito bem como responder. Ao tentar me informar, percebi que a dica podia ser muito interessante e ajudar outras pessoas, mas se eu colocasse lá no comentário, ficaria restrito à poucas pessoas, então pensei em fazer um post e compartilhar a informação com todo mundo.

A Aline é psicóloga e me perguntou como era a validação do diploma e quanto tempo demorava. Como eu não sabia muito bem como funciona essas coisas para as profissões que são regulamentadas, fui procurar me informar. Eu queria entender, fazer um passo-a-passo, mas o fato é que não dá, tudo é muito relativo. Para começar, a universidade exige o teste de conhecimento no idioma (TOEFL ou TFI) mas a pontuação mínima na prova é diferente para cada tipo de profissão. 

Ter pós-graduação, mestrado ou doutorado, podem fazer a diferença na hora da equiparação das disciplinas, o quão fluente você está no idioma também agiliza as coisas, então, tudo é relativo, depende de cada caso.

Mas como se informar? Comece procurando o conselho da sua categoria. A dica foi de uma amiga que é veterinária e que ainda do Brasil, procurou o Conselho de Veterinária do Canadá/Quebec e eles responderam todas as perguntas que ela tinha a respeito de validação do diploma por email.

Pelo que eu entendi, as profissões que são regulamentadas são validadas pelos conselhos. Minha profissão não é regulamentada, por isso nunca me aprofundei muito nesses assuntos. Se eu estiver errada em alguma coisa, se faltou alguma informação ou se alguém tem outra dica legal, deixe um comentário, por favor. Essa coisa de validar diploma eu sei que tira o sono de muita gente, até de quem está ainda fazendo o processo, quanto mais informação, melhor.

Aline, numa rápida pesquisa pela google, encontrei esse site http://ccppp.ca/ que é do The Canadian Council of Professional Psychology Programs. Espero ter ajudado.
Alguns poderiam ser evitados!

Fui toda contente preparar o meu almoço, que estava uma delícia, e talvez seja por isso que eu tenha me distraído com os meus pensamentos de quão boa cozinheira eu sou e esquecido do perigo que estava a minha frente.

Eu estava feliz e ansiosa pelo Halloween, sempre achei um evento interessante, estava animada para me fantasiar, havia comprado uma fantasia no domingo e estava pronta para assumir meus 8 anos e sair catando doce pela cidade, "Trick or Treat". Mas estraguei meu dia com um descuido daqueles. Como eu disse no parágrafo acima, por um segundo de distração, esqueci que não estava com a luva e pequei com toda força e coragem o cabo da travessa que acabara de sair de um forno de 495 graus por onde ficara por 15 minutos esquentando meu delicioso almoço, não tão delicioso assim depois das duas horas que se passaram quando eu lembrei de come-lo.

Nunca tinha sentido tanta dor na minha vida. Que desespero, queria ligar pra alguém só pra dizer "Tá doendo pra burro"! Mas não tinha ninguém por perto para a qual eu pudesse fazer isso. Ligar pra mamy era judiação, a pobrezinha só iria ficar aflita no Brasil sem poder fazer nada, marido estava trabalhando e uma mulher chorando ao telefone só iria pertubar o resto da tarde que ele ainda tinha. Só me restava chorar com a mão debaixo da torneira, que ainda bem, descia fria como picolé.

O problema é que quando eu tirava a mão da água, a dor voltava insuportável. Não dava nem pra correr até a farmácia. Nesse momento eu declarei amor à todas as farmácias de Colatina, aquelas cujo o qual você liga e eles trazem na sua porta o medicamento requerido, e ainda pode pagar "fiado". Quando enfim consegui pegar um pote, encher de água gelada e colocar a mão dentro, corri no computador e mandei uma mensagem para o marido: SOS esposa aflita mão queimada doendo muito.

Enquanto marido não vinha com uma solução milagrosa da farmácia, eu ficava com a mão submersa na água gelada, de um lado para o outro. Fiquei assim por 3 horas! Quando finalmente ele chegou, tomou um susto com aquela mão inchada dentro de um pode de sorvete (cheio de água, claro) e imediatamente sacou de dentro da sacola farmacêutica o milagre em bisnaga: um Hidratante!

Como assim???? Achei que ele traria uma pomada desenvolvida com tecnologia da NASA, com efeito anestésico instantâneo, que me fizesse sorrir de alegria e esquecer a burrice de botar a mão onde não devia, com penicilina, endorfina, dopamina, lidocaína, benzocaína, anti-ina tudo, mas não... ele me traz um hidratante!

Segundo ele, o farmacêutico, um moço muito simpático e atencioso, disse que queimadura é uma grande desidratação que a pele sofre, como foi queimadura de 2º grau, com surgimento de bolhas, um bom hidratante não oleoso era a solução dos meus problemas. Fiquei com vontade de ir lá tirar satisfação com esse quebeca de uma figa que não tem noção das 3 horas que eu já havia passado com a mão de molho na água das montanhas nevadas, mas a dor era tão grande, que mesmo pensando nisso, espremia a bisnaga de hidratante na minha mão como se fosse uma caixinha de leite condensado numa saborosa fatia de cuscuz.

A dor passou? NÃO! doia pra chuchu, mas com a mão emplastada de creme, não dava pra colocar de volta na água, o que eu fiz? Coloquei no congelador, claro! Aprenda: Nada como um frio congelante para anestesiar a dor (funciona também se você estiver no Canadá durante o inverno, é só abrir a janela).

E então a dor foi aliviando, bemmm devagar, mas aliviando. Pude me deitar e então me entregar ao sono depois das 3 aspirinas que eu havia tomado (porque eu li na internet que era bom pra melhora a dor, melhorou P@#$ nenhuma, só deu sono).

Com isso, o dia passou, a noite chegou e eu não pude aproveitar o Halloween como eu queria. O post que eu havia planejado, com fotos, pesquisas, curiosidades e tudo mais, também não pode ser feito, também não ganhei n-e-n-h-u-m docinho...
=´(

Fica para o ano que vem, né?

Aí, como se não bastasse as aventuras da minha vida, minha garganta que está inflamada desde que o tempo resolveu ficar pertinho dos 0 graus, resolveu parar de funcionar hoje pela manhã. Era dia de pagar o aluguel, fui até a administração do prédio e lá estava o casal que administra aqui. Com a voz rouca e com o inglês de Colatina, tive que fazer mímica pra fazê-los me entender. Ai, o Zé, uma pessoa simpática que só, começou a me passar uma receitinha para melhorar a gripe: Você coloca suco de limão com mel e toma, é muito bom; e sua esposa completou: sim, e está muito frio, não esqueça do cachecol. Coisa mais linda.

E isso porque ele não viu a mão queimada, se tivesse visto, certamente teria passado uma receitinha caseira pra isso também, Zé não me engana, tem cara de que sabe até simpatia pra arrumar casamento... e se ele já não tivesse me dito que é Quebeca, eu desconfiaria de uma conterrânedade entre nós... rsrsrs.

Diz a verdade caro leitor, digno de receitinha de povo de roça, não é mesmo?

Bom, como deu pra perceber, eu já estou bem, a mão já está boa e os dedos perfeitamente funcionando para digitar =D

E num é que o moço da farmácia tinha razão? O uso do tal hidratante fez as bolhas sumirem quase que completamente, nada de manchas vermelhas da queimadura e a dor sumiu. E aí eu comecei a amar a farmácia que sempre tem um farmacêutico lá para te ajudar e ouvir qual é o seu problema e sugerir uma solução eficiente (claro, sempre medicamentos que não precisam de receita porque esses eles não vendem de jeito nenhum, aqui não é Brasil). Que bom que ainda existem farmacêuticos de bom coração e que se compadecem com os exageros alheios e porteiros simpáticos.

... continuação 

O que realmente importa?

Eu acredito que a principal preocupação de quem está vivendo essa aventura de imigrar é o emprego. Tudo bem que você se preparou e veio com uma reserva de dinheiro que dê pra você e sua família viver 6 meses, ou até mais sem trabalhar, mas com certeza você não vai querer ver essa torneirinha despejando todos os seus  Reais (convertidos em dólares) aberta por muito tempo. O primeiro emprego vem com um monte de barreiras: os seus cinco anos de experiência que valem dois, a preferência pelos nativos, a validação do diploma se for necessária, a temida experiência canadense e claro, a proficiência no idioma.

Chegamos no assunto trabalho. 

Para mim, Montreal é bilingue. Se você pretende trabalhar com atendimento ao público vai precisar estar pelo menos intermediário em um dos dois e avançado no outro idioma. Em qualquer estabelecimento que você for, o atendente vai falar com você um Bonjour/Hi, e mesmo que o inglês dele seja capenga, ele vai entender o seu pedido. 

Se a sua área é Tecnologia, seu inglês precisa ser fluente. Se você sabe francês também, parabéns. Se você não sabe, tudo bem, desempregado você não vai ficar. Mas se você não é capaz de fazer uma entrevista em inglês, meu amigo, não quero te desanimar, mas a coisa vai ficar muito ruim pra você aqui nessa hora.

Mas e a validação do diploma?

Se sua área precisa fazer validação do diploma, você precisará entrar para a universidade. Se você quer estudar em inglês as opções são Concordia e McGill, se sua opção for em francês, UQAM, Université Laval e Université de Montreal. Aqui surgem dois problemas, talvez seja necessario fazer um teste de conhecimento no idioma e dependendo do curso que você for fazer a validação, exige-se uma nota mínima para ingressar no curso, por exemplo, na área de saúde, a nota mínima é bem alta (para outras não, pesquise melhor sobre isso).

Se você escolheu se dedicar ao francês e chegou aqui muito bem na fluência, basta fazer o teste e entrar na universidade, mas se for preciso fazer a francisação, você precisará se dedicar a isso, talvez 6 meses, talvez um ano, depende do nível que te classificarem.

Coloque na sua conta: o tempo de francisação, a época da prova para ingressar na universidade e o tempo para validar o curso.

Se você precisar estudar inglês vai ter que procurar um curso particular, porque esse o governo não dá de graça na província do Quebec nem ajuda de custo, mas é possivel encontrar cursos com preços bem acessíveis.

Casos reais

Sabe a conta ali em cima? É muito importante você estar ciente dela. O tempo da francisação, as tentativas para atingir a nota e ingressar na universidade e o tempo estudando na universidade podem lhe custar muitos meses. Considere tudo se você sabe que vai chegar aqui e precisar estudar mais, tanto o idioma quanto a validação do diploma.

Tenho conhecidos nas mais diferentes profissões (psicologia, farmácia, contabilidade, administrador, enfermagem, publicidade, programadores... etc, etc, etc) que estão há mais de um ano sem emprego, porque precisaram se dedicar ao estudo do inglês depois da francisação. Isso é sério, esteja preparado para isso, pense que isso existe, não venha como um ursinho feliz na sua nuvenzinha.

Eu conheço profissionais em diversas áreas que estão há mais de um ano se dedicando apenas ao estudo do idioma para poder ingressar na universidade e fazer a validação do diploma. Tem alunos na minha sala que estudam francês e inglês ao mesmo tempo!

Profissões na área de tecnologia precisam saber inglês. Na minha sala tem um Analista de Sistema que está em Montreal há 3 anos e não consegue emprego como analista porque não tem inglês fluente.

Mas nem todos os casos são assim, a área de tecnologia é muito previlegiada no que se refere a quantidade de ofertas de emprego e a validação de diploma. Um montão de programadores que eu conheço conseguiram o primeiro emprego logo no primeiro mês.

Isso não é para assustar gente, é para alertar. Muitas vezes nas palestras a gente sai de lá achando que para chegar no paraíso basta pegar um avião da Air Canada, mas não é tão simples assim.

Na minha sala tem gente com mestrado em profissões que estão super em alta por aqui, mas eles não conseguem validar o diploma porque precisam melhorar o idioma antes.

Eu poderia terminar esse post dizendo que é importante pra quem vem para Montreal saber os dois idiomas, mas eu acho que inglês é fundamental para quem quer um pouco mais desse mundo, morando em qualquer parte dele. Se você acha que só com francês você pode validar seu diploma, conseguir um emprego, fazer amigos e seguir com sua nova vida aqui, lembre-se que a maioria dos empregos exige francês e inglês e que se você quer crescer na sua profissão, qualquer chefe, gerente ou coordenador de equipe, fala inglês e francês.

Considerações finais

Quando eu criei o blog, eu queria justamente escrever sobre como era a vida aqui, depois do The End do processo, mesmo porque, sobre o processo já tem bastante informação na rede, e depois também, uma Colatinense solta em terras estrangeiras poderia render algumas boas histórias, e antes que eu perca o fio da meada, sigo meu propósito, contando as verdades das minhas experiências vividas, mesmo que essas não sejam assim tão coloridas e açúcaradas.

Uma das minha principais qualidades (sim, pode ser defeito, mas eu prefiro chamar de qualidade =P) é a sinceridade, digo o que penso e pronto (sem ofender ninguém, claro. Não vou dizer para aquela pessoa que ele está gorda, né mesmo?). Não vou pintar um arco-íris de energia, pra deixar o Canadá cheio de alegria. O que é feio vai ser dito, o que é problema também. E espero sinceramente que eu tenha ajudado alguém a entender que o passaporte carimbado é na verdade só o começo de um grande processo e que eu não tenha feito ninguém desistir dele também... rsrs

O que a gente vê nas palestras é propaganda, e as propagandas são feitas para atrair.

Montreal é bilingue, e ponto.
Estude, estude, estude e estude, quanto mais melhor (e isso ainda não será suficiente até chegar aqui), leia, ouça, treine e não desista!

E que ninguém me odeie depois disso, amém.
... continuação


Vive le Quebec libre

Esse espírito separatista dos quebecas me incomoda bastante e a implicância com a França também. Apesar de existir muita mudança a respeito disso, ainda é possível ver e sentir o separatismo. Eu procuro entender o que é típico no Quebec: a música, a comida, a dança... e não encontro. Tudo o que eu conheço sobre cultura diz respeito a língua (que é da França) a mesma com a qual eles implicam, seja pelo sotaque francês (da França) seja pelo ressentimento (os québécois se sentiram abandonados  pelos franceses na guerra contra os ingleses pela posse do Quebec, acabando assim os franceses colonizadores, colonizados) então, aquela minha questão, não faz sentindo o francês falado aqui passar a ser chamado de Français Québécois?

Eu penso, e é inevitável não fazer uma comparação, da relação do Brasil com Portugal, que mesmo com todo o histório de exploração e corrupção que existiu entre o período colonial, não existem ressentimentos entre os povos. Certo, tudo bem, o Canadá é um país jovem, devo considerar isso, talvez daqui 500 anos isso passe...

Outra coisa que me incomoda é o preconceito. Não é de todo mundo, que fique claro. Mas é mais do que eu esperava. Estive em 3 diferentes cidades canadenses anglófonas, as pessoas te tratam de uma maneira diferente. Do lado de cá da fronteira, se você não falar francês na rua com as pessoas, elas nunca vão te encarar como um possível turista. O quebeca é mau-humorado, fato.

Eu já ouvi uma história que no Quebec as pessoas trabalham menos, que estão preocupas com a qualidade de vida... bom, talvez isso seja verdade se a gente considerar que aqui em Montreal o comércio fecha as 5 da tarde e que você pode ser escurraçado pelo funcionário às 4h45 enquanto olha distraidamente uma prateleira de bugingangas, ou quando você resolve ir até o supermercado comprar um refrigerante e encontra todos fechados por causa de um feriado dominical. A única coisa que nunca fecha nesse lugar é a típica loja de conviniência quebeca, chamada Depanneur.

Parece piada, né? No Rio de Janeiro seria. O único lugar que eu conheço onde o comércio fecha tão cedo, é Colatina. Agora faz mais sentido pra você quando eu chamo Montreal de roça grande, não faz? Mas isso acontecerá uma vez só, depois da primeira você passa a consultar os horários de funcionamento (anotar e decorar, olhar no site e dar uma ligadinha antes só por via das dúvidas) de todos os estabelecimentos, lojas de rua, supermercados e shoppings, exceto das Depanneurs, claro, essas são mais fáceis, só fecham no dia do ano novo chinês.

Bom, consideranto tudo isso, realmente, as pessoas trabalham menos. Mas esse é o pensamento do lado de cá.

Do lado de lá da fronteira eu vi muita gente nas ruas, comércio aberto até tarde, lojas movimentas, pessoas alegres nas ruas, prontas pra te darem uma informação se te verem com cara de perdido, mesmo sem você pedir e mesmo que tenham que fazer mímicas pra você que não manda lá muito bem no inglês. Tem garçon que conta piada, motorista de ônibus que fala "sobe aí que te deixo lá" e gente que puxa assunto com você no ponto de ônibus... mas dizem do lado de lá que aqui as pessoas não trabalham muito...

Repito, nem todo mundo é mau-humorado, tem muito motorista de ônibus legal aqui também, são poucos, mas tem... rsss

Sinceramente, não me arrisco a fazer uma comparação entre canadenses anglófonos e francófonos como Bahianos e Paulistas, apesar de conhecer bem Montreal e achar realmente que se trabalha menos aqui, eu não conheço a Bahia.

Mas o preconceito existe, essa semana eu ouvi de uma amiga, que uma conterrânea dela, que esta fazendo Mestrado na Université de Montréal foi excluída de todos os grupos em um trabalho. Ninguém convidou ela, o professor teve que intervir, perguntando para toda a turma quem poderia aceitá-la no grupo. Ninguém se prontificou. Até onde eu sei, essa história terminou com ela chorando sozinha no banheiro. Eu espero sinceramente que ela não desista do curso, que mande ver no francês e tire a melhor nota da turma, mostrando pra todos esses quebecas quem são os Brasileiros!

E para quem fala o francês intermediário?

É um paradoxo. Se você não falar francês, eles te olham feio, se você falar mas não é tão bom assim, eles cortam para o inglês. Achou complicado? Viver no meio de tudo isso é mais ainda. Como fazer pra resolver essa situação? Para isso eu tenho somente uma palavra: insistência! Veja essas duas situações e entenda:

Ainda no Brasil, você escolhe estudar lá naquela escola que ensina o francês do jeitim que os quebecas gostam, você sonha com o Canadá, digo, Quebec (se vc escolher a província do Quebec, repita o mantra desde já: Você está no Quebec, não no Canadá!) você se veste de azul, decora o hino nacional, coloca a flôr-de-lis na lapela e vem. Chegando aqui, todo empolgado, tenta colocar o francês québécois em prática, abre o sorriso e solta a língua com o primeiro quebeca que surge a sua frente. O problema é que você está inseguro, nervoso, ansioso, empolgado, tudo ao mesmo tempo, e não deixa o seu suado francês sair assim... tão bom para os ouvidos do quebeca, passou batido o sotaque de pato Donald e esqueceu do "lô lô" no final das frases, o que vai acontecer?

Mas as coisas podem piorar: Você fez francês naquela escola carríssima e ficou com um sotaque franco-brasileiro, fala  fazendo biquinho e o "R" te deixa rouco no final de 2 horas de conversa. Isso também pode não agradar o ouvido dele, e então, o que vai acontecer???

Nas duas situações ele vai te responder em inglês. A não ser que você dê uma sorte danada e encontre alguém que só fale francês (o que é muito raro, pelo menos aqui em Montreal). Isso vai acontecer, e quando acontecer, o meu conselho é: insista! Peça desculpas e diga que não fala inglês, mesmo que o seu inglês seja até melhor do que o dele. Se não for assim, vai ser impossível você conseguir falar francês com alguém por aqui.

E é bem possível que isso ocorra muitas, muitas, muitas, muitas e muitas vezes. No começo, do lado de cá da fronteira, o seu francês nunca vai ser suficiente, do lado de lá, vai ser excelente! Se você está do lado de cá, não entregue os ponto, insista.

continua...
Publicar esse post será uma grande audásia, eu sei que vou desagradar alguém, mas acho que no final das contas, vale a pena levantar essa questão.

Tudo o que você vai ler a seguir, é baseado na minha experiência em Montreal, a cidade onde eu vivo e que consiste em uma população incrivelmente bilingue. Não incluo aqui as outras cidades da província do Quebec, onde eu imagino que deva ter menos bilingues.

Quando tudo começou

Quando o Quebec passou a ser uma alternativa de imigração, eu comecei a me preocupar com a importância do Francês. O quanto dele era necessário para a entrevista e, depois que eu chegasse aqui, o quanto dele era necessário para o dia-a-dia. Essa minha dúvida ninguém respondia, nem mesmo quando eu procurava os brasileiros que já estavam por aqui.

Antes de vir, eu queria saber qual era o peso do Francês na minha nova vida e qual o nível de Francês era necessário para sobreviver e como ficava o Inglês no meio disso tudo.

Nas palestras, nos sites do governo e até em muitos blogs, fala-se em manter a língua francesa viva, em como os québécoises vão ficar felizes e contente com o seu francês intermediário, em como o governo vai te ajudar com cursos, encaminhamento para emprego e até dinheiro quando você começar a francisação (em tempo integral).

Isso tudo é muito bonito, mas funciona mesmo? Funciona, mas não tão fácil como aparenta ser. Por exemplo, a diferença do francês que se fala na França para o francês falado no Quebec pode ser um dos problemas. Eu já falei sobre isso aqui em Pourquoi Le Français Québécois e recentemente descobri esse post aqui de 2009 de um imigrante brasileiro que fala mais sobre a "implicância" québécois com os franceses e ainda cita o blog Maudit Français que narra as "Aventures d'un immigré français au Québec".

A implicância existe, e para quem é imigrante, isso pode prejudicar muito o início da nova vida por aqui. É muito importante estar bem preparado para encontrar esse tipo de obstáculo no começo. Talvez nós brasileiros tiramos alguma vantagem dessa situação. Diferente dos chineses, definitivamente somos um país querido, geralmente o sotaque do brasileiro é agradável para os ouvidos e muitas vezes o ouvinte é outro imigrante como você (o que ajuda bastante).

No final das contas, eu acho que os quebecas deviam chamar sua língua de Français Québécois, como nosso português passou a ser identificado como Português Brasileiro.

Eu entendo (ou tento entender) que a relação que o povo quebequense tem com a língua francesa, com a França e com o resto do Canadá anglófono é complicada, resultado de anos de conflitos e pensamento separatistas.

Me lembro do dia em que fomos solicitar o reembolso do curso da Aliança Francesa, logo que chegamos. Marido se sentiu mais confortável falando inglês, mas a dona lá respondeu em francês, até que viu que não tinha jeito e falou (pelo menos tentou) em francês. Mas isso ocorreu porque a gente estava no escritório da francisation, em qualquer outro lugar, gastar o tão suado francês intermediário é sempre receber a resposta em inglês.

Entendendo um pouco mais sobre isso

Hoje o francês é a língua oficial de Montreal, 55.1% da população tem o francês como língua materna, seguido de 25% de inglês e 19% de outros idiomas (censo de 2006)Isso é resultado de mudanças que ocorreram na década de 1970, quando o Partido Québécois ganhou as eleições. Então o Partido Québécois aprovou a Carta do Quebec da Língua Francesa (também conhecida como Bill 101) cujo objetivo era (e ainda é) fazer do francês a língua normal e diária de trabalho, das escolas, da comunicação, do comércio e dos negócios. O francês assim, passava a ser a língua usada nas escolas públicas, ficando só as crianças cujos pais tinham frequentado escola em inglês no quebec autorizadas a estudarem em escolas que não fossem francófonas, todas as outras crianças eram obrigadas a frequentar escolas francesas, a razão era encorajar os imigrantes a se intergrarem na cultura quebequense. A Bill 101 também tornou ilegal para as empresas usarem sinais exteriores comerciais em qualquer língua diferente do francês, ao menos que houvesse uma tradução "maior" em francês.

Em 1976 a língua inglesa era dominante nas relações comerciais no Quebec, a criação da Bill 101 resultou na saída de muitas empresas e pessoas da cidade, deixando assim Montreal em uma grande crise econômica, que cresceu em um ritmo mais lento do que muitas outras grandes cidades canadenses. O clima melhorou economicamente depois de 1990.

O objetivo do partido era tornar o Quebec soberano, em 1980 fizeram um primeiro referendo onde cidadãos do Québec responderam se desejavam deixar o Canadá e se tornar um novo país. Essa votação terminou com 59.56% dos eleitores querendo permanecer no Canadá. Em um novo referendo realizado em 1995 o resultado foi muito mais estreito, querendo 49.42% dos quebecas a soberania contra 50.58% que não queriam.

continua... 
Montreal é a maior cidade da província de Quebec, a terceira maior do Canadá e a sétima na América do Norte (mas para mim parece uma roça grande). Como cidade grande que é, Montreal possui os problemas dos grandes centros urbanos e está longe de ser um paraíso, é claro que em menor proporção quando se comparado ao grandes centros urbanos do Brasil, por exemplo. Existem muitas pessoas pelas ruas, principalmente no centro da cidade, onde existe maior circulação de pessoas. Viciados, em sua maioria jovens, e deficientes mentais compõem essa população. Os viciados são os principais responsáveis pelos roubos que acontecem, geralmente são aqueles em que a pessoa se distrai e quando se dá conta, perdeu a carteira. Os maluquinhos que completam a população de pelegrinos, estão nas ruas porque não existem hospitais psiquiátricos. É possível encontrar muito desses moradores de rua próximos ou até mesmo dentro das estações do metrô. O personagem dessa história é um deles.

Os mendigos-malucos de Montreal merecem até um parágrafo só pra eles, afinal diz pra mim, quantas vezes você já viu um mendigo-maluco bilíngue ou trilíngue? Ficou assustado? Então o que você me diria se estivesse andando pela calçada e ao longe avistasse um mendigo-maluco gritando. Ele vem se aproximando, gesticulando e gritando em Francês. Você finge que não conhece, que nunca viu, que não entende. Aí o maluco diz: Do you speak English? Hablas Español? Nooooo?!?!?! What language you speak? Parlez moi!!!! E o coitado vai embora falando 3 idiomas e você volta pra casa, se recolhe a sua insignificância arrasado, afinal vai que você xinga ele em Português e ele entende? Bem pior, né???

Mais voltando ao personagem dessa história, Mani é o mendigo-maluquinho que vive no metrô da Guy-Concordia. É um homem de estatura mediana,  branquelo como um bom Quebeca que é, mas encardido. Mani fala francês, of course, com uma voz rouca e bem grave. Mani tem os cabelos e barba bem grande, estilo Inri-Cristo, mas sem lavar. Mani não gosta muito de sapato, está descalço na maioria das vezes. Mani não tem o braço direito, tem só um pedacinho, as vezes coloca uma fita amarelo florescente com luizinhas vermelhas piscantes no cotoquinho do braço, uma graça. E foi por causa de toda essa irreverência, que Mani recebeu esse singelo apelido, dado por mim claro, que é nada mais do que a derivação de Maneta. Muito criativa eu, fala verdade... rsrs

Logo que eu cheguei, usava diariamente o metrô da Guy-Concordia porque o sujinho ficava lá perto. De longe, pelo ar, já dava pra sentir que Mani estava no pedaço. Mani se esparrama no chão do metrô e põe um copinho da cafeteria famosa ou um boné furado pra pedir esmolas. Vai fazendo filinha com as moedinhas de 1¢ que ganha. Mani fala pelos cotovelos... digo, pelo cotovelo... cumprimenta o cachorro, xinga a lata de lixo, fala sozinho. Quando o vento não está contra, dá pra saber que ele está por perto ouvindo sua voz alta e rouca, falando um francês que nem quebeca deve entender.

Mas é que a gente se mudou do sujinho, lembra da história, né? Logo Mani deixou de ser parte do nosso dia-a-dia. Fim da história.

Ledo engano.

Mani é um maluquinho com poderes extraordinários. Descobri isso deixando de usar com tanta frenquência o metrô da Guy e morando longe do sujinho, graças a Deus.

Quando eu vou a farmácia aqui perto, quem está na porta, esticado no chão, fazendo filinha de moedinhas de 1¢? Mani!
Quando eu vou no cinema, quem está na saída dando esporro na lata de lixo? Mani!
Quando eu vou no parque fazer uma caminhada, quem está tirando uma soneca no banco? Mani!
Quando eu vou no mercado do outro lado da cidade, quem está dançando e cantando com uma garrafinha de água debaixo de 1 dos braços? (piadinha infame) Mani!
Quando eu vou a Chinatown quem está cumprimentando os cachorros que passam? Sim gente, ninguém mais, ninguém menos que ele, o Mani!

Mani possuí o poder da onipresença! E que God me perdoe por estar usando um de seus Divinos Atributos para explicar esse fenômeno chamado Mani. Mas gente, qual outra explicação teria?


Ahhhh, o doce sabor da Fama! O Brilho, o glamour, o reconhecimento, as festas... espera,  isso não é propaganda do Ferrero Rocher. É apenas uma lista dos Ricos e Famosos do Canadá.

Isso mesmo, há Famosos por aqui também, e vira e mexe, assim... meio que sem querer querendo, descubro que o tal famoso lá de Hollywood é na verdade mais um dos nascidos na terra do picolé.

Claro que a maioria dos famosos nem devem viver no Canada, afinal se a pessoa pode ter uma casinha em Beverly Hills, em Malibu ou em Miami Beach, porque ela ia ser vizinha do Papai Noel, não é mesmo?

E tem mais gente daqui, brilhando por aí, do que eu poderia imaginar. Para reconhecer pelo menos os mais "famous", pesquisei na internet e descobri de inventor a astronauta famoso. Fiz uma lista com os que eu considerei mais mundialmente bambambans e aposto que, nem que seja de unzinho desses daí, você vai dizer: "esse é Canadense???". Depois me conta...

Avril Lavigne
Belleville/ON

Alanis Morissette
Ottawa/ON

Anna Paquin 
Winnipeg/MB


Bryam Adams
Kingston/ON

Ryan Raymont
Vancouver/BC

Catherine O'Hara
Toronto/ON

Caroline Rhea
Montreal/QC

Carrie-Anne Moss
Burnaby/BC

Eugene Levy
Hamilton/ON

Dan Aykroyd
Ottawa/ON

Celine Dion
Charlemagne/QC

Diana Krall
Nanaimo/BC

Hayden Christensen
Vancouver/BC

Justin Bieber
Stratford/ON

James Cameron
Kapuskasing/ON

Jim Carrey
Newmarket/ON

John Candy
Newmarket/ON

Linda Evangelista
St. Catharines/ON

Kristin Kreuk
Vancouver/BC

Leslie Nielsen
Regina/SK

Mike Myers
Scarborough/ON

Margot Kidder
Yellowknife/NT

Nelly Furtado
Victoria/BC

Neve Campbell
Guelph/ON

Pamela Anderson
Ladysmith/BC

Rick Moranis
Toronto/ON

Sandra Oh
Nepeara/ON

Shania Twain
Windsor/ON

Victor Garber
London/ON

William Shater
Montreal/QC
Michael J. Fox
Edmonton/AB





Alguns que merecem um destaque especial:

Captain Canuck
Winnipeg/MB
Junte um pouco de Capitão America, Flash Gordon, contato extraterrestre, poderes sobre-humanos, um colã apertadinho e uma folhinha vermelha põe tudo num agente secreto e taram: Capitan Canuck! Em 1975 nascia Tom Evans, um agente secreto canadense que se tornava o novo super-herói do Canadá. E é bom você acrescentar esse na sua lista de heróis, foi anunciando no San Diego Comic Con deste ano, que um filme está sendo desenvolvido contando as histórias do Capitão Folhinha. Imagina gente, o Captain Canuck numa luta épica com um super vilão que quer destruir a CN Tower? Quanta emoção, mal posso esperar!





Leonard Coehn - Montreal/QC.
Se você não ouviu falar com certeza já ouviu cantar.



Shrek, mas é claro que você sabia disso... né?



Sarah Ann McLachlan
Halifax/NS
Outra que com certeza você vai reconhecer a voz de algum lugar.




Como eu disse, esses são apenas aqueles que eu considerei os mais Famosos, dentro da minha pesquisa, não contei com aqueles que são famosos só aqui ou aqueles que herdaram a cidadania de um dos pais (sem terem nascido aqui) ou ainda que se naturalizaram depois de ficar aqui por algum tempo (essa é pra dar esperança ao imigrante que sonha um dia em brilhar... rs) como é o caso do Keanu Reeves, Brendan Fraser e Kiefer Sutherland (esse último também conhecido como Jack Bauer).
E para que esse post não fique eterno, vão aqui dois links para que os interessados possam conhecer ainda mais os glamurosos famosos canadenses:

Famous Canadians e o bom e velho Notability List of Canadians by Wikipedia (esse incluindo tudo, da arquitetura à moda e designer... completim!)